Voar em uma vassoura ou encontrar um chapéu que fala não são coisas possíveis de se ver ou fazer no mundo real, mas pode-se vivenciar essa experiência quando se desfruta de uma obra fantástica. Esse gênero fictício se caracteriza, de acordo com Todorov (2019, p. 31), pela incerteza apresentada por um indivíduo que está sempre cercado pelas leis naturais ao presenciar um acontecimento sobrenatural. Para que se defina o fantástico, o indivíduo não pode fazer uma escolha entre o natural e o sobrenatural: ele deve permear pelos dois universos, pois, por meio dessa incerteza e intercalação de ambos os mundos, o fantástico se faz possível. Sendo assim, para Todorov (2019, p. 30): Num mundo que é exatamente como o nosso, aquele que conhecemos, sem diabos, sílfides e nem vampiros, produz-se um acontecimento que não pode ser explicado pelas leis deste mesmo mundo familiar [...] O fantástico é a hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, face a um acontecimen...
Como em um show de mágica, onde tudo acontece diante de nossos olhos e mesmo assim ficamos surpresos ao final do truque, o filme a Invenção de Hugo Cabret, nos distrai com sub-tramas leves e nos ilude com o que pensamos ser apenas a historia de um órfão em uma estação de trem, para nos surpreender com uma belíssima carta de amor ao cinema.
Logo de inicio observa-se que o relógio e suas engrenagens serão elementos fundamentais para o filme, nos primeiros segundos deste, já se vê a as engrenagens virando a cidade de Paris, mais se engana quem pensa que esta cena esta ligada apenas a profissão do personagem titulo, as engrenagens e os relógios também fazem alusão ao processo de produção de um filme, onde todas as artes e etapas de produção devem trabalhar em sincronismo para que a obra tenha êxito.
Depois de um esplêndido plano sequência pela Paris dos anos 30, somos levados ao encontro de Hugo, ao qual logo nos conectamos. Assim como nós, naquele momento, ele é apenas um espectador observando as historias da estação através de uma fenda. Mas como em um relógio onde não há peças sobrando, estas historias que Hugo acompanha escondido serão importantes para o desenvolvimento da historia do protagonista.
Como já colocado no inicio do texto, é importante ter em mente que além de um belo relógio, este filme é também um show de mágica, sendo assim, a historia de Hugo e seu autômato nada mais são que a cortina de fumaça que nos distrai do grande truque. Enquanto nos divertimos por este emaranhado de gêneros cinematográficos que este filme nos apresenta, somos transportados sem nos darmos conta, para a incrível fábrica de sonhos de Georges Méliès, e assim que as luzes se acendem e o show acaba, a única sensação é a de que estávamos sonhando acordados.
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