Voar em uma vassoura ou encontrar um chapéu que fala não são coisas possíveis de se ver ou fazer no mundo real, mas pode-se vivenciar essa experiência quando se desfruta de uma obra fantástica. Esse gênero fictício se caracteriza, de acordo com Todorov (2019, p. 31), pela incerteza apresentada por um indivíduo que está sempre cercado pelas leis naturais ao presenciar um acontecimento sobrenatural. Para que se defina o fantástico, o indivíduo não pode fazer uma escolha entre o natural e o sobrenatural: ele deve permear pelos dois universos, pois, por meio dessa incerteza e intercalação de ambos os mundos, o fantástico se faz possível. Sendo assim, para Todorov (2019, p. 30):
Num mundo que é exatamente como o nosso, aquele que conhecemos, sem diabos, sílfides e nem vampiros, produz-se um acontecimento que não pode ser explicado pelas leis deste mesmo mundo familiar [...] O fantástico é a hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, face a um acontecimento sobrenatural.
Considerando a afirmação de Todorov, o fantástico aconteceria quando, dentro do mundo natural, o mundo como o conhecemos, regido pelas leis da física, ocorresse um rompimento, um acontecimento sobrenatural que causaria estranheza tanto dos personagens da obra quanto do público que a contempla. Temos um bom exemplo disso em Harry Potter e a Pedra Filosofal. Logo no início do filme, somos apresentados a Harry, um menino que vive embaixo das escadas na casa de seus tios. Ao visitar o zoológico, Harry simplesmente começa a conversar com uma das cobras, enquanto Duda, o primo de Harry, vê a movimentação da cobra e se apoia no vidro, empolgado, mas logo após o vidro desaparece, fazendo-o cair na jaula da cobra, libertando o réptil e prendendo Duda no cativeiro. Esse acontecimento faz tanto o protagonista, Harry, que ainda não sabia de seus poderes, quanto o telespectador se espantarem e questionarem sobre o ocorrido.
Pode-se dar como certo a necessidade de um questionamento inicial sobre o acontecimento fantástico da obra, mas, de acordo com Souza (2022), esse questionamento da realidade pode ser duradouro ou momentâneo, deixando de existir quando o personagem ou o espectador assumem os acontecimentos como reais ou ilusórios. A obra cinematográfica baseada em Harry Potter adota a primeira possibilidade.
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