Voar em uma vassoura ou encontrar um chapéu que fala não são coisas possíveis de se ver ou fazer no mundo real, mas pode-se vivenciar essa experiência quando se desfruta de uma obra fantástica. Esse gênero fictício se caracteriza, de acordo com Todorov (2019, p. 31), pela incerteza apresentada por um indivíduo que está sempre cercado pelas leis naturais ao presenciar um acontecimento sobrenatural. Para que se defina o fantástico, o indivíduo não pode fazer uma escolha entre o natural e o sobrenatural: ele deve permear pelos dois universos, pois, por meio dessa incerteza e intercalação de ambos os mundos, o fantástico se faz possível. Sendo assim, para Todorov (2019, p. 30): Num mundo que é exatamente como o nosso, aquele que conhecemos, sem diabos, sílfides e nem vampiros, produz-se um acontecimento que não pode ser explicado pelas leis deste mesmo mundo familiar [...] O fantástico é a hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, face a um acontecimen...
Imagine uma jovem independente, recém formada, iniciando em um emprego dos sonhos, e que de repente, se apaixona perdidamente e as coisas começam a mudar. Ela muda sua personalidade, as roupas, se afasta dos amigos, deixa sua antiga vida para traz, passando a idolatrar o namorado e o perdoar por todas as atrocidades que ele faz com ela. Esta historia poderia ser a de milhares de garotas, mas essa especificamente, é a historia da protagonista de Aves de rapina: Arlequina e sua emancipação fantabulosa.
O que falar de um filme o qual a temática principal é a emancipação feminina? Acredito que para ter um uma compreensão mais ampla seria interessante fazer um paralelo entre o filme e a própria historia das mulheres. Por muito tempo as pessoas com cromossomos XX eram tidas como posse das pessoas com cromossomos XY, as filhas eram propriedade dos pais e depois de casadas viravam propriedade dos maridos, na Idade Média, por exemplo, uma mulher não podia nem ser julgada judicialmente, sendo quem respondia por seus delitos, o marido.
O que vemos na primeira parte do filme é exatamente isso, Arlequina não era tratada como uma pessoa, e sim como a garota do Coringa. Todo respeito e medo que os outros tinham dela, não era por ela em si, mas sim pelo fato dela ser uma posse do Príncipe do crime. E assim como acontecia, em vários momentos da história, toda a atenção e cuidado que ela recebia, por conta de seu envolvimento com o príncipe, se transforma em desprezo e hostilidade com o final do relacionamento, tendo assim que aprender de repente, a se defender e se virar sozinha. Além de Arlequina, Aves de Rapina conta ainda, com duas outras personagens que valem ser analisadas, Canário Negro e Rene Montoya.
A primeira tem medo de usar a própria voz. É muito forte ver uma personagem como a Canário, cujo poder esta, extremamente, ligado a voz, ficar calada, sendo muito interessante ver que toda vez que ela decide falar a dinâmica da trama se modifica, o que acontece na cena onde ela salva Arleqiuina, completamente bêbada, de ser abusada. Vale ressaltar o peso desta cena, uma garota bêbada, drogada ou ate mesmo dopada sendo abusada por alguém, é algo que acontece com frequência
em baladas, shows, bares, sendo relatados pelas mídias. É esta familiaridade que torna a cena revoltante e assustadora, ao mesmo tempo, que, ver a Canário dando uma surra nos bandidos, além de empolgante e imoderador, dá uma sensação de justiça. Outra cena formidável de Canário acontece na batalha final, onde finalmente ela libera seu poder, a voz, derrubando um exercito com apenas um grito, vê-la calada a maior parte do filme e vê-la se libertar e por que não dizer se emancipar, é simplesmente formidável.
Já com Rene Montoia a opressão toma outros rumos, ela é detetive, e depois de resolver um caso importante, anos atrás, o único que levou crédito pelo trabalho foi seu parceiro, que foi promovido a chefe de Montoia, enquanto ela ficou estagnada na mesma posição.
Um fato interessante é que eles não ficaram satisfeitos em colocar este roubo de credito apenas uma vez no filme. A própria protagonista, Arlequina, se queixa sobre isso durante a introdução do filme, falando que o seu “Pudinzinho” sempre ficava com o credito por suas ideias. Esta repetição não ocorre por acaso, não são poucos os relatos de mulheres que tiveram suas ideias ou o trabalho ofuscado ou ate mesmo roubado por seus maridos ou colegas de trabalho, um exemplo pertinente é o de Alice Guy, a primeira diretora de cinema, ela dirigiu mais de 100 filmes, sua importância é inegável, foi uma das primeiras pessoas a apostar em papeis anti estereotipados, mas seu nome foi esquecido, e quem levou o credito por seus feitos, foi seu marido e também diretor Hebert Blanché.
Aves de rapina é um filme sobre mulheres, e para mulheres. Como uma amante dos filmes de super herói, posso afirmar que este é um dos filmes do gênero que mais vi cenas com as quais me identifiquei, fora todos estes exemplos de abusos sofridos frequentemente por mulheres, o filme ainda nos presenteia com situações tipicamente femininas, qual garota, seja por questões hormonais ou de ansiedade não teve um caso de amor com alguma comida? É algo simples, mas não é muito representado e a cena do sanduíche de ovo repara este erro com uma representação magistral. Outra cena icônica é a do elástico de cabelo, no meio da luta os cabelos soltos, muito comuns para heroínas em filmes de super, atrapalha Canário na luta, e Arlequina simplesmente oferece um elástico de cabelo para a amiga, uma cena de poucos segundos, tão corriqueiras no cotidiano das mulheres. Estes são apenas alguns exemplos dos muitos apresentados, pelo filme, repleto de cenas do cotidiano feminino, que são ignoradas ou pouco exploradas, de modo geral, em outras produções.
Após ver Aves de Rapina, é possível entender, mais plenamente, a importância de outros filmes de representatividade, como Pantera Negra. Se vir na tela faz bem pra autoestima, é empolgante.
Logicamente, o filme tem seus defeitos, algumas pessoas não vão gostar do estilo da montagem que vai e vem, pessoalmente, isso não me incomodou, mas eu conheço a personagem e sabia que o filme se passava dentro da cabeça louca da Arlequina, contudo, entendo que isso não deixa o filme tão fluido, entretanto, a importância dele vai muito além de uma técnica perfeita, sua proposta foi a de dar uma emancipação as personagens e ao seu publico, o que a meu ver, foi feito de maneira fantabulosa.
Imagine uma jovem independente, recém formada, iniciando em um emprego dos sonhos, e que de repente, se apaixona perdidamente e as coisas começam a mudar. Ela muda sua personalidade, as roupas, se afasta dos amigos, deixa sua antiga vida para traz, passando a idolatrar o namorado e o perdoar por todas as atrocidades que ele faz com ela. Esta historia poderia ser a de milhares de garotas, mas essa especificamente, é a historia da protagonista de Aves de rapina: Arlequina e sua emancipação fantabulosa.
O que falar de um filme o qual a temática principal é a emancipação feminina? Acredito que para ter um uma compreensão mais ampla seria interessante fazer um paralelo entre o filme e a própria historia das mulheres. Por muito tempo as pessoas com cromossomos XX eram tidas como posse das pessoas com cromossomos XY, as filhas eram propriedade dos pais e depois de casadas viravam propriedade dos maridos, na Idade Média, por exemplo, uma mulher não podia nem ser julgada judicialmente, sendo quem respondia por seus delitos, o marido.
O que vemos na primeira parte do filme é exatamente isso, Arlequina não era tratada como uma pessoa, e sim como a garota do Coringa. Todo respeito e medo que os outros tinham dela, não era por ela em si, mas sim pelo fato dela ser uma posse do Príncipe do crime. E assim como acontecia, em vários momentos da história, toda a atenção e cuidado que ela recebia, por conta de seu envolvimento com o príncipe, se transforma em desprezo e hostilidade com o final do relacionamento, tendo assim que aprender de repente, a se defender e se virar sozinha. Além de Arlequina, Aves de Rapina conta ainda, com duas outras personagens que valem ser analisadas, Canário Negro e Rene Montoya.
A primeira tem medo de usar a própria voz. É muito forte ver uma personagem como a Canário, cujo poder esta, extremamente, ligado a voz, ficar calada, sendo muito interessante ver que toda vez que ela decide falar a dinâmica da trama se modifica, o que acontece na cena onde ela salva Arleqiuina, completamente bêbada, de ser abusada. Vale ressaltar o peso desta cena, uma garota bêbada, drogada ou ate mesmo dopada sendo abusada por alguém, é algo que acontece com frequência
em baladas, shows, bares, sendo relatados pelas mídias. É esta familiaridade que torna a cena revoltante e assustadora, ao mesmo tempo, que, ver a Canário dando uma surra nos bandidos, além de empolgante e imoderador, dá uma sensação de justiça. Outra cena formidável de Canário acontece na batalha final, onde finalmente ela libera seu poder, a voz, derrubando um exercito com apenas um grito, vê-la calada a maior parte do filme e vê-la se libertar e por que não dizer se emancipar, é simplesmente formidável.
Já com Rene Montoia a opressão toma outros rumos, ela é detetive, e depois de resolver um caso importante, anos atrás, o único que levou crédito pelo trabalho foi seu parceiro, que foi promovido a chefe de Montoia, enquanto ela ficou estagnada na mesma posição.
Um fato interessante é que eles não ficaram satisfeitos em colocar este roubo de credito apenas uma vez no filme. A própria protagonista, Arlequina, se queixa sobre isso durante a introdução do filme, falando que o seu “Pudinzinho” sempre ficava com o credito por suas ideias. Esta repetição não ocorre por acaso, não são poucos os relatos de mulheres que tiveram suas ideias ou o trabalho ofuscado ou ate mesmo roubado por seus maridos ou colegas de trabalho, um exemplo pertinente é o de Alice Guy, a primeira diretora de cinema, ela dirigiu mais de 100 filmes, sua importância é inegável, foi uma das primeiras pessoas a apostar em papeis anti estereotipados, mas seu nome foi esquecido, e quem levou o credito por seus feitos, foi seu marido e também diretor Hebert Blanché.
Aves de rapina é um filme sobre mulheres, e para mulheres. Como uma amante dos filmes de super herói, posso afirmar que este é um dos filmes do gênero que mais vi cenas com as quais me identifiquei, fora todos estes exemplos de abusos sofridos frequentemente por mulheres, o filme ainda nos presenteia com situações tipicamente femininas, qual garota, seja por questões hormonais ou de ansiedade não teve um caso de amor com alguma comida? É algo simples, mas não é muito representado e a cena do sanduíche de ovo repara este erro com uma representação magistral. Outra cena icônica é a do elástico de cabelo, no meio da luta os cabelos soltos, muito comuns para heroínas em filmes de super, atrapalha Canário na luta, e Arlequina simplesmente oferece um elástico de cabelo para a amiga, uma cena de poucos segundos, tão corriqueiras no cotidiano das mulheres. Estes são apenas alguns exemplos dos muitos apresentados, pelo filme, repleto de cenas do cotidiano feminino, que são ignoradas ou pouco exploradas, de modo geral, em outras produções.
Após ver Aves de Rapina, é possível entender, mais plenamente, a importância de outros filmes de representatividade, como Pantera Negra. Se vir na tela faz bem pra autoestima, é empolgante.
Logicamente, o filme tem seus defeitos, algumas pessoas não vão gostar do estilo da montagem que vai e vem, pessoalmente, isso não me incomodou, mas eu conheço a personagem e sabia que o filme se passava dentro da cabeça louca da Arlequina, contudo, entendo que isso não deixa o filme tão fluido, entretanto, a importância dele vai muito além de uma técnica perfeita, sua proposta foi a de dar uma emancipação as personagens e ao seu publico, o que a meu ver, foi feito de maneira fantabulosa.
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