Voar em uma vassoura ou encontrar um chapéu que fala não são coisas possíveis de se ver ou fazer no mundo real, mas pode-se vivenciar essa experiência quando se desfruta de uma obra fantástica. Esse gênero fictício se caracteriza, de acordo com Todorov (2019, p. 31), pela incerteza apresentada por um indivíduo que está sempre cercado pelas leis naturais ao presenciar um acontecimento sobrenatural. Para que se defina o fantástico, o indivíduo não pode fazer uma escolha entre o natural e o sobrenatural: ele deve permear pelos dois universos, pois, por meio dessa incerteza e intercalação de ambos os mundos, o fantástico se faz possível. Sendo assim, para Todorov (2019, p. 30): Num mundo que é exatamente como o nosso, aquele que conhecemos, sem diabos, sílfides e nem vampiros, produz-se um acontecimento que não pode ser explicado pelas leis deste mesmo mundo familiar [...] O fantástico é a hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, face a um acontecimen...
Até o momento vimos os elementos que inspiraram George Lucas na criação do universo de Star Wars, as crises politicas, as histórias e as filosofias que juntas deram forma a historia na cabeça de seu criador, mas entender como esta historia foi contada ao telespectador através da linguagem cinematográfica, que de acordo com Hunt, Marland e Rawle (2010 p. 40), trata-se de uma forma de narrativa que usa o posicionamento de câmera, a iluminação e a edição como ferramentas para contar uma historia, é fundamental. Para tanto, antes de qualquer coisa, é necessário diferenciar história de enredo, elementos profundamente ligados à criação da própria narrativa.
História, de acordo com Hunt, Marland e Rawle (2010 p. 45),são os fatos que acontecem no filme, e contando apenas com ela, os fatos seriam isolados, sem conexão entre eles. Na intenção de exemplificar, pegaremos uma das primeiras partes de Star Wars: O Despertar da Força (2015),onde temos a protagonista Rey, nova Jedi da mais recente trilogia da saga, o BB-8, o novo droide da franquia, e Poe, um piloto das forças rebeldes. Se
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fosse usada somente à história à cena ficaria do seguinte modo: BB-8 com o arquivo, Paul capturado, BB-8 sozinho, BB-8 capturado, BB-8 fica com Rey. Com este exemplo percebemos que a historia se restringe a acontecimentos gerais, sem nenhuma ligação aparente.
Diferentemente da história, os mesmos autores Robert, Hunt e Rawle (2010 p. 45), defendem que o enredo contextualiza os acontecimentos. Vejamos a exemplificação usando a mesma cena citada acima, com o enredo junto a historia. Paul dá o arquivo para BB-8, pois sabe que será capturado, quando isso acontece, BB-8 vaga sozinho por Jakku e é pego por um sucateiro, Rey vê a cena e salva BB-8, que acompanha a garota. Visivelmente com o enredo as ações passam a fazer sentido, deixando de serem apenas informações soltas.
Tendo visto o que são o enredo e a história separadamente, agora vamos entender o que é a narrativa, descrita pelo dicionário online Dicio (2018) como “relato, exposição de um fato, de um acontecimento (real ou imaginário)”, tendo isto como base, podemos dizer que uma narrativa é o processo que se conta uma historia, é o modo como às informações são transmitidas. Portanto, no caso do cinema, o roteiro e a montagem são os maiores responsáveis pela narrativa, contudo, de acordo com Robert, Hunt e Rawle, (2010, p.44), para dar sentido a um filme também é utilizado a linguagem cinematográfica, feita a partir de elementos como a fala, os gestos e as imagens, elementos que depois de organizados são utilizados no processo de montagem.
Outra definição para narrativa, menos técnica, mas também interessante é vista em Bordwell e Thompson(2010, p.144), defendendo que “podemos considerar uma narrativa como uma cadeia de eventos ligados por causa e efeito, ocorrendo no tempo e no espaço”.
Aplicando isto ao Star Wars, percebemos que dos elementos que definem uma narrativa, o tempo e o espaço, são dados nos primeiros segundos do filme por intermédio de apenas uma frase, “Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante...”, após esta frase já temos definido primeira coisa, o tempo, a história se passa no passado, e a segunda coisa, o lugar, em uma galáxia muito distante. Do mesmo modo, o texto clássico de entrada da saga, que segundo Taylor (2015, pag. 232), é uma estratégia simples de contextualizar e situar o telespectador sobre o que ele ira ver.
O texto aprofunda ainda mais a noção de tempo, passando informações importantes para o entendimento dos acontecimentos seguintes, sem ele os telespectadores se encontrariam perdidos nas cenas frenéticas que seguem nos primeiros dez minutos de filme,
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e ainda tendo por referência Taylor (2015, pag. 227), George Lucas, no inicio de sua carreira, foi aconselhado pelo produtor Fred Weintraud, prender a atenção do público nos primeiros dez minutos.
O conselho de Fred Weintrad foi seguido à risca em Star Wars, entregando ao publico neste tempo cenas frenéticas de batalhas espaciais, perseguições, apresentação do vilão Lorde Vaider, a da até então, da misteriosa Leia, que da uma missão ao pequeno droide R2D2,sendo neste momento, sem que percebamos, entregue ao público o terceiro elemento de uma narrativa, o acontecimento por causa e efeito.
O simples ato de dar a missão a R2D2 levará os droides C3PO e R2D2 ao encontro de Luke Skywalker, ocorrendo o chamado para a aventura, uma das fases da jornada do herói, que por sua vez é um dos estilos de narrativa clássica.
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